sábado, 15 de janeiro de 2011

Metade do RN na zona de alto risco

emanuel amaralEm Natal, segundo estatística do Programa Estadual de Controle de Dengue, mais de 58 mil imóveis estão fechados ou abandonadosEm Natal, segundo estatística do Programa Estadual de Controle de Dengue, mais de 58 mil imóveis estão fechados ou abandonados.
 

Mais de 50% dos municípios do Rio Grande do Norte correm risco “alto” ou “muito alto” de uma epidemia de dengue este ano. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) divulgou uma nota técnica apontando a vulnerabilidade de cada cidade do Estado e esse documento é o primeiro instrumento para que os municípios do estado fortaleçam as ações de prevenção e controle do mosquito da dengue, o Aedes aegypti. O documento foi montado pela equipe do Programa Estadual de Controle da Dengue e aponta que 87 das 167 cidades potiguares estão em situação de risco “alto” ou “muito alto” de epidemia em 2011.
Uma das recomendações da secretaria estadual é que os órgãos municipais elaborem mapas locais de risco, identificando a vulnerabilidade de cada bairro, para poderem trabalhar de forma mais embasada no controle. “Só Natal elaborou seu mapa de risco, por enquanto, e o que sabemos é que 40% dos casos são registrados em quatro bairros: Quintas, Felipe Camarão, Cidade da Esperança e Cidade Nova”, observa a subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica, Juliana Araújo.

Para a coordenadora do Programa Estadual de Controle da Dengue, Kristiane Carvalho, o importante é que todos os municípios intensifiquem o trabalho e que as ações não ocorram apenas no setor de saúde, mas abrangendo outras áreas, de forma integrada. Ela lembrou que medidas como garantir “caixas d’água vedadas e água na torneira a toda população não são de iniciativa das secretarias de saúde, mas pesariam bastante no combate ao vetor.

Juliana Araújo afirma que a Sesap está à disposição das prefeituras para acompanhar o trabalho desenvolvido nas cidades, bem como para receber técnicos dos municípios e orientá-los. De acordo com a subcoordenadora, cabe ao estado ajudar na capacitação, monitoramento, na supervisão in loco e, “em último caso”, no fornecimento dos carros fumacê. “Atualmente, não há carros fumacê operando em nenhuma cidade”.

O mapa elaborado pela Sesap já é um desdobramento do mapa nacional, divulgado pelo Ministério da Saúde, e que inclui Rio Grande do Norte e todo o Nordeste no cenário de “risco muito alto” para a dengue. A classificação é feita a partir de dados como incidência de casos, índice de infestação predial e densidade populacional. Desde 1996, o RN viveu oito anos considerados “epidêmicos”.

Kristiane Carvalho enfatizou, no entanto, que nem toda responsabilidade cabe aos órgãos do poder público, uma vez que o combate à dengue depende também das atitudes da população. No Nordeste, em torno de 80% dos focos do mosquito são residenciais, como os que se desenvolvem em tonéis, baldes, pneus e garrafas jogados em quintais.

Ao mesmo tempo, a coordenadora do programa fez questão de apontar os bons exemplos. Dos 20 municípios consideradores prioritários no combate à dengue no Rio Grande do Norte  dois não apresentaram risco alto. “Em Assu, o risco é moderado, e em Apodi baixo”, citou.

Casas fechadas abrigam mosquito

Uma bela casa, de vários cômodos, terreno amplo, ótima localização na região central da cidade, arquitetura diferenciada e totalmente desocupada. O que poderia ser uma lista de características muito positivas para o mercado imobiliário, tem se transformando em uma relação de aspectos negativos para o combate aos focos de dengue em Natal.

Em bairros centrais como Tirol, Cidade Alta, Petrópolis e Ribeira diversos casarões estão fechados, com os terrenos em volta servindo de depósito para lixo e seu interior de ponto de acúmulo de água, já que muitos não contam mais com janelas, ou mesmo telhado. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou cinco desses imóveis e constatou os problemas que representam para o controle do mosquito Aedes aegypti e mesmo para a segurança da população.

Na Prudente de Morais, uma residência já sem teto, portas e janelas virou ponto de despejo de computadores antigos, nas proximidades do Supermercado Nordestão. As carcaças dos PCs acumulam água durante as chuvas e na própria casa, de bela arquitetura, são formadas poças, devido à ausência de telhado. O terreno, onde parte da cerca foi derrubada, fica vizinho a uma parada de ônibus e é frequentado por moradores de rua, tornando-se um risco à segurança de quem aguarda por coletivos, à noite. 

Já na Floriano Peixoto, uma casa vizinha à Universidade Potiguar está tomada por mato e restos de folhas e lixo. “A gente vive tendo problema de insetos por conta desse terreno abandonado e com a dengue o medo é grande”, afirma a funcionária de um restaurante vizinho, Francisca Antônia da Silva. O local teria sido comprado por uma construtora e ainda não utilizado.

Do outro lado da mesma rua, um casarão de primeiro andar, supostamente pertencente às Forças Armadas, também está totalmente abandonado. Mais grave, no entanto, é a situação do prédio ao lado, aonde só se chega a partir do casarão, e no qual grande parte do teto já desabou. Já na esquina da rua Seridó, outro casarão de primeiro andar se mantém desocupado e o mato cresce, ao lado de garrafas plásticas jogadas no terraço.

Na descida da avenida Rio Branco, o lixo toma conta de uma residência que era utilizada, até algumas semanas atrás, como ponto de tráfico de drogas e local de encontro de moradores de rua.

Fechadas

Em toda capital, números de agosto de 2010 apontam para a existência de 58 mil residências fechadas, ou nas quais as equipes de agentes de saúde não conseguiram acesso.

Na região Leste de Natal, Cidade Alta (1.057 casos para 100 mil habitantes) é o bairro que apresenta maior índice de registro de dengue clássica e em toda Natal só fica abaixo do observado nas Quintas (1.695 por 100 mil moradores). Alecrim (930) e Petrópolis (551) que também registram índices acima da média municipal, que é de 479 por 100 mil habitantes.

estatística - Casos crescem e mortes caem

A quantidade de casos de dengue registrados em 2010 no Rio Grande do Norte superou em 119% os números de 2009, alcançando 8.468 suspeitas da doença. O avanço da dengue hemorrágica foi ainda mais intensa, com um acréscimo de mais de cinco vezes na quantidade de casos suspeitos, porém houve uma queda significativa no número de óbitos registrados nos últimos dois anos, de 28 para 16. 

Na capital, o número de notificações de dengue hemorrágica em 2010, até o dia 18 de dezembro, já era cinco vezes superior ao do ano anterior, tendo passado de 49 para 240, com três mortes, contra duas registradas em 2009.  Em Natal, foram notificados 3.841 casos de dengue até a antepenúltima semana de 2010, contra 1.553 em 2009.

Falta de agentes dificulta controle na capital do RN

Único município do estado que já elaborou seu mapa de vulnerabilidade à dengue, Natal pretende dar início a um combate ao mosquito focado nas áreas de maior risco. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) já organizou um cronograma de ações preventivas e de eliminação de criadouros do mosquito, nos bairros da cidade.

A partir de fevereiro, o trabalho de campo dos agentes será realizado seguindo um modelo de zoneamento, priorizando as áreas consideradas mais vulneráveis, como os bairros da zona Oeste, que no último mapa de vulnerabilidade apresentaram a maior incidência de casos da doença e de infestação predial pelo Aedes aegypti.

A intenção é que profissionais da rede municipal de saúde percorram as praias urbanas da capital, orientando banhistas e turistas sobre os riscos e como evitar a dengue, através de mensagens de prevenção e distribuição de materiais informativos.

Apesar de configurar entre os municípios de “risco muito alto” para desenvolver surto de dengue nos próximos meses, Natal não possui estrutura suficiente para controlar os focos dos mosquitos ou cuidar dos doentes. Os agentes de endemias não fazem o número de visitas domiciliares recomendadas pelo Ministério da Saúde e menos de 40% da cidade é coberta por equipes completas de Programa de Saúde da Família.

“Em 2009, Natal não conseguiu terminar o quinto ciclo e ano passado não sei se terminou o quarto”, disse esta semana à TRIBUNA DO NORTE a promotora de Saúde de Natal, Elaine Cardoso. O Ministério da Saúde recomenda que cada casa seja visitada seis vezes por ano, o que são chamados ciclos.

A falta de agentes de endemias em Natal é tão grave que a  coordenadora do Programa Estadual de Dengue, Kristiane Fialho, coloca Natal como “o único município” do Estado com problemas referentes aos agentes.

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