terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Nunca choveu tanto em janeiro

alex fernandesO trecho da BR-101 sobre o rio Pitimbu, no sentido Parnamirim/Natal, foi levado pelas águas. A pista ficou interditada e o trânsito engarrafado. No meio da tarde, o Exército começou os reparosO trecho da BR-101 sobre o rio Pitimbu, no sentido Parnamirim/Natal, foi levado pelas águas. A pista ficou interditada e o trânsito engarrafado. No meio da tarde, o Exército começou os reparos.
 

As fortes chuvas caídas em diversas regiões do Rio Grande do Norte, no final de semana, provocaram interdição de rodovias, alagamentos nas cidades, prejuízos na zona rural, a sangria de um açude no Trairi e ainda representaram números recordes. Em Natal foram registrados 151,1 milímetros de chuvas da manhã de sexta-feira à manhã de ontem, quantidade próxima à soma das médias históricas na cidade para os meses de janeiro (58,6 mm) e fevereiro (109,3 mm).
Somente a chuva registrada na capital pela Estação Meteorológica da UFRN, das 9h de domingo às 9h de segunda-feira, foi de 115,6 mm, a maior em um único dia desde 8 de agosto de 2008, quando choveu 171,9 mm. Foi também a maior em um único dia de janeiro, desde que a Emparn começou a registrar os índices diários na capital, em 1992. O total acumulado em 2011 já é de 213,1 mm, quase quatro vezes acima da média, fazendo deste mês o mais chuvoso janeiro desde 2004 em Natal. O volume, porém, está abaixo do registrado em Parnamirim. Nos primeiros 24 dias do ano choveu 350 mm na terceira cidade mais populosa do estado. Em Santa Cruz foram 264 e em Sítio Novo 221. Essa última, localizada no Trairi, registrou a maior precipitação do final de semana, exatamente os 221 mm.

O Trairi foi a região mais afetada pelas chuvas. Uma ponte na BR-226, entre Tangará e Santa Cruz, chegou a ser “lavada” por uma lâmina de 15 cm de água e teve parte de sua estrutura danificada. Durante a madrugada de ontem, no local, um veículo com dois integrantes da comissão técnica do time de futebol do Santa Cruz foi arrastado pelas águas.

Em Santa Cruz, o açude de mesmo nome, com capacidade para 5,1 milhões de m3, começou a sangrar no domingo. De acordo com o prefeito, Péricles Rocha, a lâmina chegava ontem a “aproximadamente 80 cm” e alguns “pequenos barreiros” na zona rural estouraram. O reservatório da cidade, que pertence à bacia do rio Trairi, é o primeiro do Dnocs a sangrar no estado, em 2011.

“Nossa grande preocupação é que dizem que vai chover até sexta-feira e uma chuva dessas, como a que vimos este final de semana, não caia aqui há uns 15 anos”, estima o prefeito. Ele explicou que informações detalhadas sobre a situação das comunidades rurais de Santa Cruz só devem ser conhecidas a partir de amanhã, uma vez que o acesso está dificultado pela cheia dos riachos.

Na zona urbana, uma estação de tratamento de esgoto “estourou” e trechos do acesso ao santuário de Santa Rita de Cássia foram danificados. O prefeito afirmou, porém, que não houve interdição da área. Péricles Rocha disse que, pretende marcar uma audiência com a governadora Rosalba Ciarlini, com o objetivo de apresentar os dados sobre os prejuízos registrados e solicitar ajuda do governo estadual.

Bombeiros trabalharam em 34 pontos

Com 151 mm de chuva em 12 horas, os telefones do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil não pararam de tocar. Com uma diferença: por conta de um acidente com um caminhão, os telefones da Defesa Civil municipal ficaram fora do ar durante todo o período de chuva. A única opção para os afetados pelos transtornos na capital era o telefone dos Bombeiros. Segundo o registro da corporação, foram 34 ocorrências registradas, principalmente a respeito de alagamentos e ruas danificadas. Não foi registrada nenhuma ocorrência grave, segundo o Capitão Bandeira, responsável pelo setor.

Um caminhão bateu em um poste em frente ao prédio da Defesa Civil, que funciona no estádio Machadão, e rompeu os fios da rede telefônica. “Infelizmente, ficamos sem comunicação durante toda a noite e parte da manhã. Todas as informações que temos foram repassadas pelo Corpo de Bombeiros”, explica o coronel Marcos Pinheiro, chefe da Defesa Civil na capital. E complementa: “No fim das contas, o problema mais comum é mesmo o de alagamento, seguido de ruas danificadas. Na Zona Norte, árvores caíram e também alguns sinais de trânsito foram danificados”.

O Corpo de Bombeiros informou que os transtornos com alagamentos e ruas danificadas aconteceram em locais previsíveis, com a avenida Capitão Mor Gouveia, a BR-101, a avenida dos Xavantes, entre outros locais. “A dificuldade já é previsível. Todos os anos são os mesmos locais, então já temos uma ideia do que pode acontecer”, explica o capitão Bandeira.

Na avenida Mor Gouveia, o afundamento da rua. Paula Francilene conta que ligou a noite inteira para conseguir ajuda, sem sucesso. “Liguei para a Defesa Civil e ninguém atendia, enquanto que o Corpo de Bombeiros dizia que não tinha como atender porque eram muitas ocorrências. Ficamos sem atendimento”, reclama.

Chuva causa cratera na BR-101

Trecho da rodovia desabou em decorrência da erosão causada pelo mau tempo da madrugada. O prazo para a recuperação da pista varia de 10 a 15 dias. Até lá, uma mão será interditada e na outra funcionará as duas mãos

As pessoas que tentaram fazer o trajeto Parnamirim-Natal na manhã de ontem enfrentaram grandes problemas devido a um congestionamento. O motivo era a interdição de duas faixas da estrada em decorrência de uma cratera que surgiu na madrugada devido às chuvas. O prazo estimado para a recuperação da via é de, pelo menos, 10 dias. Engenheiros do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e também do Exército já realizavam a primeira vistoria logo após o ocorrido.

“Às 2h da manhã (de segunda-feira) recebemos um chamado relatando uma grande erosão no trecho da BR-101 em Emaús. Viemos de imediato e interditamos parte da rodovia”, explicou o inspetor da PRF, Roberto Cabral.

A cratera comprometia duas faixas da via e represava o rio Pitimbu, que costumava passar sob a BR naquele trecho. Os condutores se viram obrigados a desviar a rota no sentido de Macaíba ou por Nova Parnamirim. Mas, mesmo com opções de desvio, muitos se viram presos em meio ao engarrafamento que se prolongava por cerca de dez  quilômetros, de acordo com informações da PRF.

Durante o período de reestruturação da via, com prazo máximo de 15 dias, todas as três faixas do sentido Parnamirim-Natal ficarão interditadas. “O plano incial é de que, no período da manhã, duas faixas fiquem liberadas para o sentido Parnamirim-Natal e uma para o sentido Natal-Parnamirim. Na parte da tarde, entretanto, essa ordem seria invertida e duas faixas ficariam à disposição do sentido Natal-Parnamirim e uma para o sentido Parnamirim Natal”, explicou.

Problema ocorreu, também, com as fortes chuvas de 2008

Não é a primeira vez que há problemas na BR 101, exatamente no mesmo trecho do atual. Em 2008, uma cratera também se abriu no local. A construção do condomínio Buena Vista, próxima ao trecho onde ocorreu o desabamento de parte da BR-101, agrava o problema. Desde o início de 2007 quando a área, classificada como duna, foi terraplanada, órgãos como o Ministério Público (MP/RN) e o Ibama intervieram no intuito de impedir a continuação da obra. Ainda não se sabe a relação do condomínio com o ocorrido ontem, mas de acordo com a promotora do meio ambiente, Gilka da Mata, todo a redondeza “teve a drenagem natural comprometida”.

Para Gilka, que se embasa em laudo da superintendência do Ibama em Brasília, o ambiente sofreu danos. “Todo o ecossistema  foi atrapalhado. A água que escorreria para o terreno onde era o condomínio, que é mais baixo, ficou sem ter para onde ir”, disse.

A erosão foi prevista no laudo do Ibama em 2009. “As obras estão suspensas, mas o processo ainda não foi finalizado. O embargo ocorreu por uma instância superior, o Tribunal de Justiça, mas a juíza de Parnamirim ainda avalia a legislação que proíbe a construção na área”, afirmou a promotora Gilka.

O Ibama apontou pelo menos 14 impactos ambientais negativos e permanentes associados à implantação do condomínio. Entre eles estavama a diminuição de taxas permeáveis do terreno, processos erosivos decorrentes das obras de terraplanagem e ocorrência de erosão em dunas e assoreamento do Rio Pitimbu.

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